Os versículos do Sermão da Montanha de Mateus 5:17-20 revelam um ensinamento profundo sobre a relação entre a antiga Lei judaica e a nova justiça que Jesus traz. Jesus não apenas reafirma o valor da Lei, mas aprofunda sua essência, conduzindo seus seguidores a uma compreensão mais elevada. Vamos examinar a seguir o significado de cada versículo para entender essa transformação espiritual e moral.
1. “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim aboli-los, mas cumpri-los.” (Mateus 5:17)
Ao iniciar, Jesus declara que sua missão não é destruir a Lei ou os Profetas, mas cumpri-los. Essa declaração é crucial porque havia uma expectativa de que o Messias traria algo radicalmente novo. Contudo, Jesus corrige essa visão dizendo que ele veio “cumprir” (do grego pléroo, que significa “realizar”, “completar” ou “preencher completamente”).
Jesus apresenta-se, portanto, como a plenitude da Lei. Ele não a anula, mas a leva ao seu propósito máximo, mostrando que a Lei, na sua essência, aponta para Ele. Tudo o que estava escrito e profetizado tinha a intenção de direcionar o ser humano para Deus. Jesus é, então, o ápice desse direcionamento. O cumprimento da Lei nele é espiritual, não meramente cerimonial ou legalista.
2. “Em verdade lhes digo que, até que os céus e a terra desapareçam, de forma alguma desaparecerá da lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra.” (Mateus 5:18)
Aqui, Jesus enfatiza a permanência e imutabilidade da Lei. Ele usa uma expressão figurativa, afirmando que “nem a menor letra ou traço” se perderão enquanto o propósito final de Deus não se cumprir.
Essa afirmação reforça a importância de cada aspecto da Lei como expressão da vontade de Deus. Jesus confirma que a Lei permanece válida, mas sugere que seu verdadeiro sentido vai além da letra. O foco não é o cumprimento superficial ou ritual, mas uma transformação interna que reflete a santidade e a justiça de Deus.
3. “Portanto, todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será chamado menor no reino dos céus, mas todo aquele que praticar e ensinar esses mandamentos será chamado grande no reino dos céus.” (Mateus 5:19)
Este versículo destaca a responsabilidade do discípulo diante da Lei. Jesus alerta para o perigo de tratar com negligência os mandamentos, seja desobedecendo, seja ensinando os outros a fazerem o mesmo. Ele não permite uma interpretação arbitrária ou uma escolha pessoal dos mandamentos, mas exige respeito e fidelidade a eles.
Jesus ensina que a verdadeira grandeza no Reino de Deus está em praticar e ensinar os mandamentos com integridade. Aqueles que desobedecem ou desprezam os “menores mandamentos” não são desprezados no Reino, mas ocupam uma posição menor. Esse ensinamento aponta para a importância da coerência entre o que o discípulo acredita e o que pratica. A grandeza espiritual é alcançada não por status ou conhecimento teórico, mas pela prática fiel dos valores divinos.
4. “Pois eu digo que, se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e à dos mestres da lei, de modo nenhum entrarão no reino dos céus.” (Mateus 5:20)
Por fim, Jesus coloca uma condição surpreendente: a justiça dos seus seguidores deve exceder a justiça dos fariseus e dos mestres da lei. Os fariseus e mestres eram conhecidos por seu rigor no cumprimento da Lei e pela prática meticulosa das tradições religiosas, mas Jesus aponta para algo que vai além de uma obediência literalista e visível.
A justiça que Jesus espera é uma justiça interior, uma pureza do coração. Ele ensina que a verdadeira justiça não está apenas em atos visíveis, mas na sinceridade e amor com que se vive a Lei de Deus. O que Ele propõe é uma transformação radical do coração, que se reflete em ações altruístas, misericórdia, humildade e verdade.
Essa justiça superior reflete a essência dos ensinamentos de Jesus: não basta cumprir a Lei formalmente; é preciso vivê-la em espírito e verdade.
Conclusão: O Cumprimento da Lei como Caminho para o Reino dos Céus
No Sermão da Montanha, Jesus nos leva a entender a Lei de Deus como uma revelação do Seu caráter e da Sua vontade para a humanidade. O cumprimento da Lei, como Jesus nos ensina, vai além do literalismo. Ele nos convida a buscar a essência espiritual da Lei, onde o amor, a justiça e a misericórdia ocupam o centro da relação com Deus e com o próximo.
Cada mandamento é um convite à prática da justiça e do amor verdadeiro, que supera o formalismo e se realiza no espírito. Assim, o discípulo que almeja o Reino dos Céus deve cultivar uma justiça viva, dinâmica e profunda, que começa no coração e se manifesta nas ações.
Esse chamado à “justiça superior” representa, em última instância, a nova aliança que Jesus estabelece: uma aliança onde a Lei está inscrita no coração humano, não mais apenas em tábuas de pedra. Jesus, como cumprimento perfeito da Lei, nos convida a viver essa justiça com liberdade e amor, revelando em nossas vidas o próprio caráter de Deus.