A realidade, com todas as suas complexidades, dores e alegrias, muitas vezes parece menos atraente do que as histórias idealizadas que criamos ou consumimos na ficção. No entanto, afirmar que a realidade, qualquer que ela seja, é melhor do que a ficção, é uma declaração profunda que nos convida a refletir sobre a importância do que é verdadeiro, concreto e vivido em comparação ao que é imaginado, ilusório ou fabricado.
A Realidade: Um Campo de Verdades Inescapáveis
A realidade é o solo onde nossas experiências, conquistas e desafios acontecem. Ela nos coloca diante de situações que exigem coragem, adaptação e aprendizado. Ainda que, por vezes, seja dura ou repleta de adversidades, a realidade tem um valor intrínseco: é onde a vida efetivamente acontece.
Como afirmou Jean-Paul Sartre, filósofo existencialista:
“O homem está condenado a ser livre, porque uma vez lançado ao mundo, ele é responsável por tudo o que faz.”
Na liberdade de viver a realidade, encontramos o peso de nossas escolhas e, ao mesmo tempo, a oportunidade de transformar o que nos rodeia.
Além disso, a psicologia contemporânea nos mostra que o enfrentamento da realidade, por mais desafiador que seja, é essencial para o crescimento. Carl Jung, pai da psicologia analítica, apontou:
“Quem olha para fora sonha; quem olha para dentro desperta.”
Encarar a realidade nos leva ao autoconhecimento, ao contrário da fuga para a ficção, que apenas nos mantém em uma visão superficial e ilusória da vida.
A Sedução da Ficção
A ficção, por sua vez, oferece uma fuga para mundos alternativos, onde podemos imaginar finais felizes, vidas perfeitas e universos sem os limites da vida cotidiana. Seja na literatura, no cinema ou na nossa própria imaginação, a ficção nos dá o conforto de uma existência idealizada, onde as dores e os desafios podem ser moldados ou até evitados.
Entretanto, o sociólogo Zygmunt Bauman, em sua análise da sociedade contemporânea, destacou:
“Vivemos em tempos líquidos, nada é feito para durar, e fugimos do desconforto da realidade ao buscar alívios temporários em distrações.”
A ficção muitas vezes se torna essa distração que nos afasta da responsabilidade e da ação real.
Na Bíblia, o profeta Jeremias trouxe um alerta contra as ilusões confortáveis:
“Os profetas profetizam mentiras, os sacerdotes governam por sua própria autoridade, e o meu povo gosta disso. Mas o que vocês farão quando tudo chegar ao fim?” (Jeremias 5:31).
Aqui, vemos o perigo de nos apegarmos à ficção, às falsas esperanças e às idealizações que não nos preparam para o inevitável encontro com a verdade.
A Verdade nos Liberta
Uma das grandes forças da realidade é a sua verdade. Ainda que o confronto com a verdade seja difícil, ele nos dá clareza, nos ajuda a crescer e nos conduz a um estado de maior autenticidade. A ficção, por mais bonita ou intrigante, não nos oferece essa libertação; ela apenas nos entretém ou, no melhor dos casos, aponta caminhos possíveis que precisam ser trilhados no mundo real.
O próprio Jesus Cristo afirmou:
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32).
A verdade é inseparável da realidade e tem o poder de nos libertar das correntes da ilusão. A fuga constante para a ficção pode parecer reconfortante, mas nos aprisiona em um ciclo de expectativas irreais e frustrações.
O filósofo estoico Epicteto complementa:
“Não são os acontecimentos que perturbam os homens, mas suas opiniões sobre eles.”
A realidade pode ser dura, mas é no modo como a enfrentamos, e não na negação dela, que encontramos verdadeira paz.
A Beleza do Real
Mesmo nos momentos mais sombrios da vida, a realidade nos dá a chance de experimentar a esperança, a transformação e o milagre da existência. A ficção, por outro lado, é limitada a reproduzir reflexos do que vivemos. Ela pode imaginar, mas não pode criar.
A psicóloga Elisabeth Kübler-Ross, conhecida por seu trabalho sobre o luto e a resiliência, escreveu:
“As pessoas mais belas que conhecemos são aquelas que conheceram a derrota, o sofrimento, a luta, a perda e encontraram o caminho para fora das profundezas. Essas pessoas têm uma apreciação, uma sensibilidade e uma compreensão da vida que os enche de compaixão e profunda preocupação amorosa.”
Essa beleza transformadora é fruto da realidade vivida, e não de uma fantasia idealizada.
Na Bíblia, o apóstolo Paulo reafirma essa perspectiva em Romanos 5:3-4:
“Nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança.”
A realidade, por mais difícil, gera frutos verdadeiros que moldam nosso caráter e nos conduzem à esperança genuína.
Conclusão: O Valor Incomparável do Real
Embora a ficção tenha seu lugar no imaginário humano, é na realidade que está a essência da nossa existência. Por mais difícil que seja, viver plenamente na realidade nos torna verdadeiramente vivos. Albert Camus, filósofo do absurdo, afirmou:
“A grandeza do homem está em ser mais forte do que sua condição.”
A ficção pode nos fazer sonhar, mas é a realidade que nos permite realizar. Encarar o real, com todas as suas imperfeições, é o que nos aproxima da verdade e do crescimento. A fuga constante para a ficção pode parecer um alívio momentâneo, mas apenas a realidade, qualquer que ela seja, nos dá a oportunidade de vivermos plenamente, aprendermos com nossas experiências e nos tornarmos seres humanos melhores.
Como ensina Eclesiastes 7:14:
“No dia da prosperidade, goza do bem; mas no dia da adversidade, considera; porque Deus fez tanto este como aquele.”
A sabedoria está em aceitar a realidade, com suas alegrias e dores, como parte do plano da existência e da evolução humana. É apenas no terreno do real que crescemos, aprendemos e tocamos o eterno.
Assim, por mais atraente que a ficção pareça, devemos reconhecer que a realidade, em toda a sua verdade, dor e beleza, é insubstituível. Ela é o palco onde a vida acontece, onde a transformação é possível e onde encontramos o verdadeiro sentido de existir. Afinal, a verdade é mais valiosa do que qualquer ilusão.